Quando fiquei sabendo dessa volta, logo me empolguei para participar! Não lembro quem pilhou quem para participar do evento, mas eu e o Fábio logo resolvemos correr. Eu sou mega pangaré, e tenho treinado ridiculamente pouco, mas gosto de participar de provas, pois elas costumam me incentivar a voltar a treinar de forma decente. Sem contar que o número de provas de ciclismo é tão pequeno que acho que vale a pena incentivar qualquer iniciativa de promover o esporte.
Bom, só nossa estadia já geraria um post, mas vou pular essa parte e ir direto à prova. Nos perdemos para chegar ao local, então acabamos um tanto atrasados para retirar nossos numerais. Apesar da correria, colocamos os números na camiseta e nos posicionamos para a largada. Enquanto aguardávamos, uma mulher ao microfone agradecia as participações na prova. Eu e o Fábio, por brincadeira, ao fazer a inscrição, nomeamos a nossa equipe como “Só no Girinho”, meu mantra e nome da bike de ciclotour dele. Qual não foi nossa surpresa quando a mulher agradeceu nossa equipe por estar participando do evento?! Brincadeiras e sorrisos depois, começamos a ficar cansados da espera. O sol forte já estava castigando e a ansiedade de começar logo a prova já me deixavam de mau-humor. Com mais de meia-hora de atraso todos os participantes da prova foram obrigados a realizar a volta de apresentação pela cidade de Sarapuí. Segundo a organização da prova, aqueles que não participassem da volta estariam automaticamente desclassificados. Não me importei com a volta de apresentação, achei a idéia até simpática, até chegarmos a um trecho de subida em paralelepípedo (daqueles hexagonais). Só de passar por esse trecho já queimei uma energia considerável, mas tudo bem, valia pela promoção do esporte.
Bom, com uns 45 minutos de atraso finalmente começou a largada. Fizeram a largada num local de subida e, devo dizer, que aí começaram os erros sérios da prova. O atraso irritou, mas era tolerável, agora a largada foi uma completa bagunça... Não havia um ponto específico com linha de largada e, apesar de ter algumas pessoas tentando organizar as categorias, muitas pessoas largaram em momentos errados e a minha categoria teve de largar duas vezes (juntamente à categoria estreante). Eu, como completa pangaré, tenho a maior dificuldade de clipar em subida, depois de alguns desequilíbrios e um quase tombo, subi na bike e já saí na desvantagem. Até aí tudo bem, porque minha intenção era apenas participar... Dei uma leve forçada e alcancei a rabeira do pelote, mas eis que, na primeira subida, minha corrente cai no momento em que mudei a marcha para a coroa melhor. Respirei fundo (pois este é um problema recorrente na minha bike) clipei na subida de novo e voltei a pedalar em ritmo um pouco maior pra tentar alcançar a rabeira do grupo de novo. Neste momento já não havia nenhum carro de apoio atrás de mim. Acredito que o carro policial que estava acompanhando o final do pelotão nem notou que tive um problema mecânico.
Cerca de uns 20 minutos, e algumas quedas de corrente, depois consegui alcançar o último ciclista e o passei... Neste momento estava me sentindo bem e, ao avistar um outro ciclista também consegui ultrapassá-lo. Segui bem até o primeiro retorno da prova. Me aproximava cada vez mais do restante do pelotão e sentia que terminaria o percurso cansada, mas terminaria bem.
Ao chegar no retorno, mais um erro crasso da organização: não havia posto de abastecimento! Nesse momento toda a minha vontade começou a ser minada. Eu, que fui disposta a completar os 102K, já mudei na hora de opinião. Completaria os 62K destinados à minha categoria e estaria de bom tamanho. Saindo de Pilar do Sul, furei no meio de uma subida. Pronto, mais um tantinho de desânimo, mas vamos lá! Tinha três cilindros de CO2 comigo e trocaria o peneu rapidamente. Antes mesmo de os ciclistas que eu havia passado me alcançarem.
Realmente não era um dia de sorte. Eu sou uma pessoa mega esquecida, portanto costumo deixar minhas coisa de ciclismo todas juntas para não correr o risco de ficar sem algo importante, mas dessa vez acabei não colocando o kit de reparos onde deveria e, sem espátulas, tentei usar minha chave do carro pra remover o pneu. No primeiro sinal de que a chave não agüentaria sentei no chão e fiquei aguardando ajuda. Nenhum dos dois ciclistas que me alcançaram possuíam espátulas, mas com boa vontade me ajudaram a remover o pneu com uma chave allen. Neste momento o carro policial que deveria fazer a escolta dos últimos ciclistas deu uma breve parada na estrada e perguntou se tava tudo bem. Quando respondi que era apenas um pneu furado eles arrancaram no sentido de Sarapuí e nunca mais avistei o carro.
No momento que tentei encher o pneu com a bomba de CO2, ouvi um estouro. Foi só então que percebi que meus colegas prestativos haviam deixado um pedaço da câmara de ar para fora do pneu... Com paciência removemos novamente o pneu e, dessa vez, eu deixei o cavalheirismo deles de lado e passei a trocar o pneu sozinha. Um deles resolveu continuar o percurso, o outro ( CLaudinei) ficou me acompanhando com sua chave Allen. Troquei a câmara e, como não podia deixar de acontecer num dia tão azarado, minha bomba de CO2 resolveu não funcionar. Coloquei o cilindro, ouvi o lacre rompendo, mas no momento que encaixava no bico da câmara, nada acontecia.
Para minha sorte eu havia levado minha bomba de quadro e, com ajuda do Claudinei, consegui encher ridiculamente o pneu. Voltamos a pedalar e tentei ir no ritmo do Claudinei, o mínimo que eu podia fazer depois de toda a ajuda. Apesar do meu esforço em manter um ritmo bem leve, depois que completei uma subida mais dura, ele não apareceu. Como sabia o quanto ele estava cansado imaginei que havia chamado por resgate e continuei girando um pouco mais rápido.
Mas a longa parada para consertar o pneu me esfriou e eu já não tinha mais água e nem o isotônico que havia levado. Neste momento comecei a ficar preocupada, pois não havia mais apoio atrás de mim e, com cãibras (provavelmente decorrentes da desidratação), eu já não sabia se conseguiria terminar os 12 km restantes. Passei a girar cada vez mais devagar e a salvar o máximo de energia possível. Não queria ligar para o Fábio, pois não sabia se ele iria ou não completar os 102K e não queria deixá-lo preocupado. Foi então que vi um carro ao meu lado com um Claudinei só sorrisos dizendo que também havia furado o pneu. Nem pensei e já soltei: Pô, me dá uma carona? Para minha sorte ele estava com um suporte para duas bikes e pode me socorrer.
Cheguei ao local da largada decepcionada. Nunca havia desistido de um objetivo antes, mas sabia que não teria condições de continuar. Encontrei o Fá sentando próximo do pórtico, já abastecido de água e isotônico e revoltado com a má organização da prova.
Para piorar ainda mais a situação, enquanto muitos ciclistas ainda estavam realizando o percurso de 102K, o pórtico de chegada foi totalmente desmontado. Um claro sinal de desrespeito aos demais participantes esforçados.
Com raiva, eu e o Fábio voltamos pro carro na esperança de chegar logo em casa e poder descansar de toda a confusão que havíamos passado.
Mas deixo aqui minha indignação com a prova: não tive apoio, não houve ponto de hidratação e nem garantia de segurança aos ciclistas que ficaram para trás do pelotão, uma vez que seguramente os organizadores não tinham controle de quantos ciclistas haviam cruzado, ou não, a linha de chegada. Daí me pergunto: pra que, então, paguei os cinqüenta reais de inscrição? Pensei muito antes de redigir um post revoltado e falando mal de uma prova que, pelo menos na teoria, não deixa de ser um apoio ao esporte, mas foi impossível não sair de lá com a sensação de que havia sido enganada pela organização.
Infelizmente, a partir de agora só participrei de provas conceituadas, com grandes empresas e patrocínios (como a VO2 e iniciativas como a da Claro 100K). Apoio o esporte e quero mais iniciativas de provas e competições, mas primo pela minha segurança. Apesar desse desgosto todo, que venham os treinos! Afinal de contas, a VO2 tá quase aí!
Um dia pra ficar na memória, especificamente no setor "roubadas & afins".
ResponderExcluirA prova que tinha tudo pra ser perfeita, foi uma baita decepção!
Apesar de tudo, você foi guerreira e tentou até onde deu. Só isso é digno de nota e prêmio!
Mas foi triste perceber que a Federação Paulista de Ciclismo e os organizadores da mal fadada prova não fizeram o dever de casa: Garantir, antes de qualquer coisa, que TODOS os Ciclistas tivessem o mínimo de suporte e segurança.
Agora é esperar pela próxima VO2 ou torcer pra que provas como a Claro 100k (que infelizmente não vingou) apareçam pra prestigiar o ciclismo de estrada amador!